sábado, agosto 06, 2005

Os dias nem sempre são fáceis.
Hoje interroguei-me o porquê do corpo e da mente, por vezes, se desencontrarem tanto.
A minha avó encontra-se em processo lento de desgaste físico, de colapso. Os órgãos não mais suportam viver, é uma tarefa árdua demais a ser levada a cabo. O corpo cede, os órgãos vão morrendo lentamente. O que é difícil assistir... As marcas deixadas pela má circulação, a respiração difícil pelo mau funcionamento de apenas um pulmão, o bater lento de um coração velho e gasto de viver, de sentir, de sofrer.
Mas o que é mais doloroso para todos, e ainda mais para ela, é a lucidez, a sobriedade, a nitidez de raciocínio aos 89 anos e o espanto e desilusão no seu rosto por o corpo já não responder. Muitas vezes oiço-a dizer com uma lágrima nos olhos: ‘Mas o que se passa comigo? O que eu sou e o que eu era!’ E recordo-me das férias de Verão passadas com ela e com o meu avô (que já morreu há 14 anos). A minha avó não é mais a pessoa alegre que aparecia nas suas histórias de juventude, a pessoa lutadora que educou seis filhos, a avó carinhosa de sorriso no rosto. Agora é apenas um ser humano em sofrimento, choroso, e consciente da dor que semeia numa família desgastada pela situação.

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