sexta-feira, maio 20, 2005

Did you realise no one can see inside your view? (Strangers, Portishead)

Esta frase sempre me pôs a pensar. Todos nós temos visões únicas do mundo, dos outros e de nós mesmos. Tenho pensado muito neste facto que todos sabemos consciente ou inconscientemente. Talvez pelo trabalho que faço há alguns meses, talvez pelo livro que terminei ontem, talvez pela minha natureza reflexiva e de questionamento.
Ontem terminei a leitura de Ondas de Virginia Woolf. Livro fascinante, intenso, profundo. Foi um livro que esperou o momento certo para entrar na minha vida. Foi-me oferecido por uma amiga mas só um ano depois o li. Não estava ainda preparada para ele. É daqueles livros em que temos necessariamente de nos adaptar à pele do autor pela sua especificidade e singularidade. É sem dúvida esta a literatura que gosto e admiro. Uma prosa poética, com frases de paragem obrigatória para a reflexão, ponderar sobre nós, os outros, a realidade. Seis personagens que poderia simplificar como Rhoda, a diferente, contemplativa, reservada, misteriosa; Jinny, exuberante, atraente, corporal; Susanne, ponderada, sem necessidade de ser admirada; Louis, cerebral, complexado, que se refugia no trabalho; Bernard, sonhador, atento às palavras; e por fim Neville, livre, apaixonado.
Mas todos eles, como nós próprios, somos muito mais do que duas ou três palavras, duas ou três etiquetas. Uma amiga perguntou-me há dias o que ela era, segundo a minha opinião. Como reduzir a imensidão, a complexidade de uma pessoa a meia dúzia de rótulos? Alguém fica a saber quem eu sou se me definir como calma, sonhadora, reservada, diferente? Sem dúvida sinto que sou tudo isso. Mas sou também muitas outras coisas. Por isso nunca gostei de rótulos e catalogações. Somos pessoas, não embalagens num qualquer supermercado à espera de sermos comprados. Eu pelo menos não estou à venda!

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